Archive for março 2009

Vozes do Clima


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Quem pensa que aquecimento global é apenas especulação econômica, tem que reaver seus conceitos.

Das 300 nascentes catalogadas no DF, 100 estão mal preservados


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Diego Amorim - Correio Braziliense
Publicação: 27/02/2009 08:13

Um terço das nascentes catalogadas no Distrito Federal agoniza à espera de socorro. Vítimas da ocupação desordenada, do descaso com o meio ambiente e da falta de consciência ecológica, pelo menos 100 olhos d’água, a maioria em área urbana, sofrem com assoreamento, acúmulo de lixo e desmatamento. Em alguns casos, as regiões que eram para ser de proteção permanente viraram tanques de lavar roupa a céu aberto e locais de banho coletivo. Aos poucos, nascentes perdem vazão e, a qualquer momento, podem secar.

O Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do DF (Ibram), ligado ao governo local, estima que existam mais de mil nascentes espalhadas na cidade. Das 300 identificadas até aqui, 199 foram adotadas desde 2001, quando surgiu o programa Adote uma Nascente. Isso quer dizer que essas, bem ou mal, são monitoradas e recebem o mínimo de cuidados por parte de pessoas ou empresas que, voluntariamente, resolveram ajudar de alguma forma. Nas restantes, a equipe de cinco funcionários do Ibram responsável por cuidar das nascentes não consegue impedir a degradação.

Há 12 anos, um olho d’água resiste ao abandono na entrada de São Sebastião. Capins braquiaras invadiram as margens. Ali, duas bombas de sucção foram instaladas. Elas abastecem pelo menos quatro casas próximas. “Tem a água que vem da rua, mas essa é limpa e geladinha. E é de graça”, comentou o ajudante de pedreiro Devanes Ferreira, 32 anos. O que ele e outras pessoas fazem pode ser enquadrado como roubo de água.

Do outro lado da rua, outra nascente, a Morro Azul, está ameaçada, apesar de ter sido adotada em 2007 pelo servidor público José Carlos Maciel, 42. Na época, ele plantou 50 mudas de vegetação nativa e fez mutirão para limpar a área. Ontem, voltou ao local e o encontrou cheio de sacolas plásticas e garrafas de vidro. Cascalhos da região, segundo ele, foram retirados para construir as ciclovias ali perto. O projeto de um condomínio a ser construído nas proximidades já foi aprovado. “Essa é uma nascente condenada”, lamentou.

A coordenadora do Adote uma Nascente, a bióloga Vandete Maldaner, diz que em 2009 a meta é convencer os adotantes do compromisso que precisam ter com as nascentes. No fim do ano passado, o programa recebeu R$ 43 mil da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP) do DF. O dinheiro será aplicado em estudos para monitorar a qualidade da água e a vazão nas minas já adotadas. “Queremos nos preocupar mais com a qualidade das adoções do que com a quantidade”, resumiu Vandete.

Bom exemplo
O síndico do condomínio Jardim Botânico V, José Máximo de Oliveira, 56, é exemplo a ser seguido. Em 2006, adotou a nascente que fica no residencial e, desde então, a mantém preservada, sem entulhos que antes a sufocavam. Plantou cerca de 100 mudas e impediu qualquer construção nas redondezas, escalou um funcionário para fazer limpeza periódica e espalhou placas pelo local lembrando os 1,5 mil moradores de que ali, em meio às 310 casas, há uma nascente.

Adotar um olho d’água requer mais que boa vontade. Os interessados precisam arcar com os custos da preservação, como colocar placas e cercas, comprar mudas para reflorestar o local e impedir a invasão dos 50m destinados à área de preservação permanente (APP). Oliveira não quis nem falar em dinheiro: “Foi coisa pouca. Consegui umas mudas com a administração, não gastei quase nada”. “Não tem segredo. É só fazer a nossa parte que a natureza faz a dela”, completou, ao exibir o certificado de adotante.

A ideia de convocar a população para salvar as nascentes serviu de modelo para a WWF-Brasil. Em março do ano passado, a ONG lançou o programa Nascentes do Brasil, que segue a mesma lógica da iniciativa distrital. “Proteger as nascentes ajuda a diminuir custos de tratamento e melhora a qualidade da água. Mas as pessoas esquecem que a água não vem da torneira”, comentou o biólogo Samuel Barreto, coordenador do programa Água para a Vida do WWF-Brasil.

Tira-dúvidas
# Quem pode adotar uma nascente?
Qualquer pessoa física ou jurídica que não esteja envolvida em processos de crimes contra o meio ambiente. O voluntário pode ser desligado a qualquer momento do projeto por vontade própria ou caso cometa algum crime ambiental.

# Quem escolhe a nascente?
O interessado, sob a orientação do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram). A adoção em terras públicas é permitida, mas não implica qualquer tipo de direito de posse e/ou de ocupação da área. Em terras particulares ou ocupadas por arrendamento, ela só pode ser feita se autorizada pelo responsável.

# Como se dá o processo?
Depois de escolher a nascente a ser adotada, a pessoa tem de preencher cadastro e entregar cópia de documentos pessoais e da área a ser vistoriada ao Ibram. Em seguida, o instituto vistoria o local da nascente e elabora relatório propondo ações para preservação e/ou recuperação. O voluntário recebe, então, o certificado de adoção, que vale por dois anos. A renovação é feita se as ações propostas no relatório técnico forem executadas.

# Quem custeia a recuperação da nascente?
O responsável pela adoção pode e deve buscar pessoas e empresas que apoiem o projeto com recursos financeiros, serviços ou doação de materiais. Também pode utilizar recursos próprios. As ações realizadas pelos voluntários não estão sujeitas a indenizações por parte do governo.

# Como obter informações sobre o programa?
Por meio do telefone 3321-3472 e do site:

Nascentes do Plano Piloto estão ameaçadas por erosões e entulho


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As nascentes do Plano Piloto estão ameaçadas por erosões crescentes e entulho. Logo na entrada do Parque Ecológico de Uso Múltiplo da Asa Sul, na 613/614 Sul, um irônico sinal de alerta. Apesar de cercado com placas de proibido jogar lixo ou entulho, bem embaixo da sinalização há pneus velhos, uma caixa com lixo e um galão de água com a boca virada para cima. Mais adiante, garrafas de vidro e sacolas plásticas contaminam a lagoa. Na nascente, o mais preocupante: uma grande erosão.

Sem grama ou árvores próximas às nascentes, a enxurrada resultante dos dias de forte chuva carrega terra e toda sorte de dejetos das vias para a lagoa. A vegetação das margens é atingida e, gradativamente, destruída. O acúmulo de terra assoreia córregos e lagos. O lixo contamina a água.

No parque da Asa Sul, a situação se complica porque as bocas de lobo não conseguem dar vazão ao volume de água da chuva, em parte porque não têm o tamanho adequado e em parte porque frequentemente ficam repletas de lixo urbano. Dessa forma, a água transborda e segue em direção à nascente. E o ciclo recomeça: boca de lobo ineficiente, ausência de vegetação, lixo. Tudo contra a preservação. “As enxurradas abriram uma erosão de 12m antes da nascente. Essa erosão já tem 4m de profundidade”, lamenta o voluntário que adotou as nascentes do parque da Asa Sul e do Olhos D’água, na 412/413 Norte, o advogado Ricardo Eugênio Montalvão Coelho.

No Olhos D’água, a nascente, que fica fora do parque, na entrequadra 212/213, está próxima de prédios residenciais. Foi recentemente cercada, mas já se observam sinais de vandalismo. Qualquer pessoa tem acesso ao local. “A gente usa na hora do descanso para se banhar ou escovar os dentes”, confirmou um auxiliar de limpeza que preferiu não se identificar.

Além da ausência de consciência ambiental, em tempos de chuva a água escorre das ruas carregando o que encontra pela frente e desembocando na nascente. A erosão no local aumenta a cada dia, como indicam as raízes de árvores que protegem as margens, cada vez mais expostas.

Para a geógrafa e participante do Fórum de ONGs ambientalistas Mara Moscoso, a área do parque da Asa Sul está degradada. “Em muitas partes não se vê nem ao menos grama. A água ali é mais turva do que no Parque Olhos D’água. Como fica próximo à L2 Sul, quando chove a água carrega óleo dos carros e lixo para a nascente. Se existisse vegetação próxima a ela, a área verde funcionaria como filtro. A própria raiz seguraria a água e diminuiria sua intensidade”, explica a geógrafa. Segundo ela, a diminuição da velocidade da água reduziria, também, o risco de erosão. “A água cava a terra, causando erosão, porque não há nada que a impeça. Até a grama é importante. Caso contrário, ocorre o assoreamento, que é o acúmulo de terra na água, como acontece no Lago Paranoá”, alertou Mara. Na prática, as agressões à natureza causam a morte da vegetação e de animais que dependem dela. “Isso além de tornar o espaço visualmente desagradável e de tornar real a possibilidade de falta de água no futuro”, disse a geógrafa.

SAIBA COMO AJUDAR

Faça sua parte
As nascentes devem, preferencialmente, estar cercadas. Mesmo que não estejam, procure não se aproximar, principalmente com animais, ou usar a água dali para evitar contaminação

Não jogue lixo na rua. Isso evita que as bocas de lobo entupam em época de chuva, o que prejudica o escoamento da água, que pode parar na nascente em forma de enxurrada, levando e arrancando o que encontra pela frente.

Recomponha a vegetação nativa nas margens da nascente. Uma maneira é plantar mudas de espécies naturais da região para conservar o solo e evitar ou minimizar o assoreamento.

Cidade mais populosa do DF completa 38 anos


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DFTV
Ceilândia, que nasceu de várias invasões, hoje abriga gente de todo canto, principalmente do Nordeste. Atualmente, a cidade tem mais de 360 mil moradores.


São 365 mil moradores em Ceilândia. Uma população maior que a de capitais, como Vitória, Palmas e Rio Branco. O território da cidade tem 230 quilômetros quadrados, maior que João Pessoa, na Paraíba, e Aracaju, em Sergipe.

A cidade tem 7.500 comércios e 1.180 indústrias. Gente que trabalha, compra nas feiras e gosta de um forró e de um rap. Uma cidade completa. “É uma cidade boa, tudo que a gente procura é fácil de encontrar”, diz um senhor. “É tudo de bom, porque sou pioneiro de Ceilândia”, afirma outro senhor.

A maioria dessa população é de origem nordestina. “Sou do Maranhão e não me arrependo de ter vindo para essa cidade. Em Ceilândia tem muitos maranhenses. Então, a gente mora perto de todo mundo”, conta a dona de casa Ana Maria.

E é no centro da cidade que os mais antigos se encontram. Ao redor da mesa, sempre jogando. “É tudo de bom. Está faltando apenas uns banquinhos, ao redor da mesa, para a torcida ficar sentada vendo a gente jogar”, brinca o aposentado Lourival Alves.

Quando chegou do Ceará, o cenário que Francisco das Chagas Nogueira encontrou era bem diferente. “Não tinha nada, era só mato. Mas logo foi crescendo. Eu andava com minha mercadoria na carroça. Só que era tanta poeira que tinha até medo de um carro bate em uma carroça, porque não dava para enxergar nada”, lembra o comerciante.

Em um espaço, bem no coração de cidade, é possível conhecer um pouco mais da história de Ceilândia. A Feira Central, inaugurada, há 32 anos, tem 460 barracas que reservam muitas curiosidades.

Nos corredores, as cores e os sabores do Nordeste. “Tem mocotó, sarapatel e buchada”, diz uma feirante. No cardápio, um tempero marcante. Quem experimenta sempre volta. “

A música é outra riqueza desse povo. No acordeão, Espirro, e no vocal, Aline. Os dois são da banda Nega Maluca, de Ceilândia. Com o forró, fazem uma homenagem a este cantinho do Distrito Federal. Eles cantam “Parabéns pra você”.

“Essa homenagem é pouca. Ceilândia é tudo”, enfatiza um morador.

Na Praça do Restaurante Comunitário tem Banda Sinfônica e teatro. E tem ainda festival de forro na Praça dos Eucaliptos até 2h.

Flávia Marsola / Wilson Sousa